Etimologicamente, a palavra páscoa vem do hebraico, como afirma Champlin em sua enciclopédia bíblica de teologia e filosofia:
“A palavra portuguesa «páscoa» é usada para designar a festa dos judeus que, no hebraico, é chamada pasach, que significa «saltar por cima»,«passar por sobre». Pesach é a forma nominal da palavra. Esse nome surgiu em face da tradição de que o anjo da morte, ou anjo destruidor, «passou por sobre- as casas assinaladas com o sangue do cordeiro pascal, quando ele matou os primogênitos dos egípcios (ver Êx. 12:21 e ss)”. (CHAMPLIN, pg. 99)
Em grego, a palavra páscoa vem de “pakha” e em latim “pache”, ambas significam passagem.
Pelo conhecimento histórico, sabe-se que na mitologia da Europa, nesta mesma época do ano em que se comemora a páscoa, os povos daquela localidade celebravam a chegada da primavera e homegeavam a Ostera, ou Easter, que significa páscoa. Ostera, também conhecida como Ceres (pelos romanos) era cultuada pelos antigos povos europeus como a deusa da fertilidade e da primavera. Sua representação mítica é uma mulher segurando em suas mãos um ovo (símbolo da fertilidade), tendo ao redor dos seus pés descalços um coelho saltitando, alegremente.
A forma com que os antigos povos europeus comemoravam a chegada da primavera era ofertando ovos decorados uns aos outros. Tal costume, advém do Séc. X, da Inglaterra, a exemplo disso relatos históricos apontam que o rei Eduardo I tinha por hábito presentear seus aliados com ovos banhados a ouro, nesta época do ano.
A conotação cristã dada à liturgia pascal como a temos hoje, advém da Idade Média. Assimilando-se a tradição cristã ao paganismo europeu vemos uma comemoração pascal sincrética que foi se incorporando aos costumes ocidentais no decorrer do tempo.
Inspirado no paganismo europeu o coelho foi introduzido nas comemorações pascais, por volta de 1700 nos Estados Unidos. Hoje, a leitura que o cristianismo pagão traz a respeito do coelho é que ele é um símbolo de renovação e de nova vida. Porém, com os conceitos materialistas o comércio ocidental assimilou toda essa ideologia e incorporou a comemoração da páscoa com os símbolos do coelho e ovos de chocolate, com fins meramente, lucrativos.
Quanto à data da páscoa, a igreja decidiu no Concílio de Nicea em 325 d. C. incluir no calendário cristão a sua comemoração, após o primeiro domingo de lua cheia. Entende-se, também, por quaresma o período que se estende entre a quarta-feira de cinzas e a páscoa. Assim podemos depreender desta festa religiosa, que os moldes por ela adotados não passam de um sincretismo entre ritos de povos antigos e a imposição litúrgica da Igreja Medieval que influencia a liturgia cristã da maioria das igrejas atuais.
Porém, as tradições cristãs consideradas protestantes ou reformadas, contrariam essa liturgia. Wycliffe, diz em seu dicionário bíblico que a páscoa foi um festa instituída por Deus para Israel na época do Êxodo (Êx 12:1-30; 43-49). Tal celebração remonta o livramento que Deus deu ao Seu povo do anjo da morte na última, das dez pragas. Deus deu a seguinte ordem: O sacrifício de um cordeiro para cada família, para que desta forma tivessem o livramento e a proteção divina. Pela fé, os israelitas passaram o sangue do cordeiro inocente nos umbrais das portas de suas casas. Assim, quando o anjo da morte passasse, não entraria na casa que tivesse a marca do sangue do cordeiro imaculado (Êx 12:1-14).
Assim sendo, tipificando o vindouro sacrifício perfeito de Jesus, aquele ato de libertação do da escravidão do Egito, simboliza a libertação do povo da escravidão do pecado; Desta forma, assim como, os israelitas pela fé, foram poupados da condenação e da morte através do sangue do cordeiro sacrificado; hoje, também pela fé, todo aquele que aceita o sacrifício remidor de Jesus na cruz do calvário e o recebe como único e suficiente salvador, será livre da morte eterna ou segunda morte.
Por isso, a páscoa não está vinculada a uma data em específico do calendário, seja este romano, gregoriano, judaico, ou outro. A páscoa é um símbolo da nossa fé e salvação através do sacrifício vicário de Jesus. No Novo testamento, vemos o significado tipológico pascal entre a páscoa judaica e a festa dos pães asmos para o cristão. Desta forma, assim como Paulo conclamava a igreja de Corinto a eliminar o fermento velho da malicia, do pecado, da maldade e observar diariamente o simbolismo e significado da páscoa (1 Co 5:7); nós como verdadeiros cristãos devemos celebrar a verdadeira páscoa.
Esta comemoração, não é motivada somente por uma semana, ou data marcada pelo calendário romano-cristão, mas todos os dias da nossa vida. Assim, necessitamos deixar o “Egito” (símbolo do mundo de pecado) e nos abster do fermento velho (símbolo das práticas pecaminosas), pois Cristo que é o nosso cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29) já fez o sacrifício perfeito. Cabe-nos, a exemplo da igreja primitiva ter o entendimento de que o sacrifício de Jesus é suficiente para nos libertar de todo julgo. E assim como a igreja primitiva chegou ao entendimento, devermos também compreender que não mais necessitamos celebrar a páscoa imolando nenhum animal, ou invocando liturgias passadas, mas reconhecendo que Jesus é a nossa páscoa e que no ato da Ceia do Senhor, completamente, as antigas celebrações.
Em Cristo Jesus,
Irmã Angélica Alves
REFERÊNCIAS:
BEACON, Comentário do Antigo Testamento. Vol 1. Pentateuco, 4ª ed. Rio de Janeiro, 2012
CHAMPLIM, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. 6. ed. São Paulo: Hagnos, 2002. Vl.6.
PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howord F.;REA, Jonh; Dicionário Bíblico Wycliff, Rio de Janeiro, CPAD,2006.
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